quarta-feira, 8 de abril de 2009

Preparando a Celebração da Páscoa - Parte III


Quinta-feira Santa

Antigamente, pela manhã, fazia-se a reconciliação dos penitentes e, a continuação, celebrava-se uma eucaristia para os que não podiam observar o jejum até a missa da ceia. Fazia-se também uma consagração dos óleos. A missa da consagração dos óleos, como a da noite, não possuía liturgia da palavra, mas começava com a liturgia eucarística. Na Gália, até o final do século VII, a bênção dos óleos era realizada durante a Quaresma e não na Quinta-feira Santa.

O rito do lava-pés era realizado em Jerusalém nos meados do século V. Posteriormente, esse costume foi propagado pelo Oriente e Ocidente. A liturgia da Com a evolução e propagação da celebração, a Quinta-feira Santa sofrerá ainda dois acréscimos. Primeiro, a trasladação do solene do que restou das espécies eucarísticas para um tabernáculo provisório, onde serão adoradas até a comunhão do dia seguinte. Em Roma conservava-se o resto do pão consagrado num cofre, depositado na sacristia, sem que houvesse nenhum sinal de honra devocional, por parte da comunidade dos fiéis. Durante a missa seguinte, no início da celebração, o cofre era apresentado ao pontífice, após sua entrada para realizar a celebração; este venerava as sagradas espécies por alguns instantes, em seguida elas eram levadas ao presbitério para serem depositadas no cálice do vinho consagrado no momento da fração do pão. Com o aumento da devoção ao santíssimo sacramento, as espécies que sobravam passaram a receber honras particulares. Assim, a partir da metade do século XII, o papa Urbano estendeu a toda a Igreja a festa do Corpo de Cristo (11 de agosto de 1264). Desta maneira, o tabernáculo da Quinta-feira Santa passou a ser ocasião para manifestação da adoração a Eucaristia. Com a introdução de alguns sinais de tristeza na liturgia, como por exemplo a abolição do som do órgão e das campainhas, o tabernáculo provisório passou a ser considerado pela devoção popular como o sepulcro de Cristo; fato notável é que a liturgia ainda não havia celebrado a sua morte. O segundo acréscimo foi a desnudação do altar, representando o despojamento de Cristo na Cruz, simbolizado pelo gesto de tirar as toalhas do altar, as flores e os demais ornamentos do templo.

Hoje, o Concílio Vaticano II introduziu algumas modificações na liturgia da Quinta-feira Santa. A bênção dos santos Óleos e a consagração do Crisma são ocasião para reunir o clero em torno do bispo; a Quinta-feira Santa tornou-se um dia sacerdotal, com a renovação das promessas sacerdotais, durante a celebração da missa crismal. A concelebração durante a ceia vespertina ganhou o caráter de demonstração da unidade do sacerdócio.

A Quinta-feira Santa é um dia de alegria, amor e gratidão. À tarde recorda-se o exemplo de Jesus que quis lavar os pés dos discípulos, dando-nos o testemunho de serviço e humildade; recorda-se a última Ceia do Senhor, na qual Ele se dá aos seus como Pão da Vida e Vinho da Salvação; recorda-se o mandamento do amor e o legado do sacerdócio ministerial para perpetuar a celebração do mistério entre nós como presença que gera compromisso, espírito de partilha, força e disponibilidade para a missão.

A liturgia da Palavra da Quinta-feira Santa está centrada sobre o fato da Ceia do Senhor. A primeira leitura recorda a celebração da Páscoa Judaica (Ex 12,1-8.11-14) que será transformada pelo Novo Cordeiro Pascal, criando um novo povo, pela aliança no seu sangue derramado na cruz. A segunda leitura apresenta a Ceia do Senhor conforme o relato do apóstolo Paulo (1Cor 11,23-26). O Evangelho nos relata a cena do Lava-pés dos discípulos (Jo 13,1-5) tornando-se um sinal do amor de Jesus pelos que o seguiam.

O costume da celebração do Lava-pés, imitando o gesto de Jesus, era antigo na Tradição da Igreja. Desde o século IV esse ritual aparece em todas as liturgias. O Concílio de Toledo exige a obrigatoriedade do rito em todas as Igrejas da Espanha e da Sicília. A reforma do Missal Romano, em 1970, tornou-o de caráter obrigatório em as celebrações da Ceia do Senhor, constituindo parte integrante do gesto de doação realizado por Jesus; ato que deve ser recordado e atualizado em todas as comunidades de hoje. A adoração ao Santíssimo Sacramento, no fim da Ceia do Senhor, permaneceu até hoje como costume de acompanhar a memória de Jesus na angústia e na agonia daquela noite da grande semana, a noite da Quinta-feira santa.

Pe. Nivaldo Feliciano Silva, cs


Foto: http://www.lds.org.br


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