segunda-feira, 6 de abril de 2009

Preparando a Celebração da Páscoa - Parte I

Histórico da Semana Santa


I. O sentido das festas cristãs

As festas são tão antigas quanto a própria humanidade. Celebrar uma festa é festejar de maneira diferente os acontecimentos e fatos da vida, que dão sentido à existência humana, todos os dias.

As festas cristãs são celebrações de acontecimentos que são recordados e atualizados pelos fiéis num clima de ação de graças e de louvor. Existem festas com origens diversas. Algumas festas se originam da natureza cósmica. Outras celebram os fatos significativos da vida dos indivíduos, das famílias, das comunidades e das coletividades. Nas festas, geralmente, o ser humano religioso inclui uma oração de agradecimento a Deus e apresenta o motivo concreto da celebração.

O povo cristão possui uma profunda ligação com o povo judeu e com sua religião. Além disso, conheceram muitas festas que comemoram as ações salvíficas de Deus em favor de seu povo. O acontecimento de Jesus veio dar sentido novo às diversas festas judaicas, imprimindo um caráter salvífico às muitas celebrações que ganharam um sentido próprio para o povo cristão.


II. A Semana Santa

O mistério pascal (paixão-morte-ressurreição) é o fato primordial de nossa fé e o centro de todas as celebrações litúrgicas realizadas pela comunidade cristã. Historicamente e teologicamente, o Ano Litúrgico surgiu e se desenvolveu como celebração da ação pascal e da redenção de Jesus. Examinando a liturgia da Semana Santa, percebemos que o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor constitui o núcleo de todas as celebrações realizadas nestes dias.


1. Alguns elementos históricos sobre a origem da Semana Santa:

- Comemoração anual da Páscoa de Jesus;

- Testemunho bíblico: 1Cor 5,7-8;

- Celebração do Mistério Pascal nos dias da festa judaica: compreensão progressiva do sentido de libertação pelas comunidades judaico-cristãs;

- Controvérsia (séc. II) a respeito do dia da comemoração anual do Mistério Pascal: dia 14 de Nisan ou Domingo seguinte ao 14 de Nisan;

- Ásia Menor: observava o dia 14 de Nisan;

- Roma e maior parte das Igrejas celebravam no domingo seguinte ao 14 de Nisan;

- Os dois grupos (Ásia Menor, Roma) celebravam uma festa litúrgica com uma ceia eucarística que terminava o jejum preparatório. Embora com datas diferentes as duas modalidades celebrativas tinham o mesmo fim: celebrar o Mistério Pascal em sentido pleno; os que celebravam no dia 14 de Nisan acentuavam a morte e paixão de Jesus; e o grupo de Roma e demais Igrejas enfatizavam a ressurreição e glorificação de Jesus;

- Concílio de Nicéia (325): fim das disputas sobre as datas da Páscoa, prescrevendo que deveria ser celebrada no Domingo depois da primeira lua cheia de primavera. Essa determinação evitou que a páscoa cristã fosse celebrada no mesmo dia da Páscoa Judaica;

- A fixação da data é conseqüência da convicção de que a festa da ressurreição de Cristo tem como objeto um acontecimento histórico e, por isso, merece uma comemoração anual, levando em consideração a distribuição do tempo em conformidade com o ciclo solar. Uma das razões consideradas para a fixação da data foi o estreitamento das relações entre os povos e continentes; os modernos sistemas econômicos exigem uma rigorosa distribuição do tempo de maneira que assegure a uniformidade entre o período de produção e os períodos dedicados ao lazer. Isto é, a Igreja procurou uma saída técnica que possibilitasse manter a produção e o mercado sem interromper o ciclo da produção e, consequentemente, possíveis dificuldades de ordem econômica e social.



2. A teologia da Semana Santa

- Recordar os últimos acontecimentos da história de Jesus de Nazaré;

- Celebração e atualização do memorial da páscoa na vida dos fiéis;

- Encontro com o ressuscitado nas celebrações litúrgicas, por meio da Palavra e da pessoa dos irmãos que participam da comunidade;

- Celebração do Mistério Pascal na sua globalidade, sem fragmentações;


3.Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

O nome da festa indica a celebração de dois mistérios diferentes, duas tonalidades espirituais, duas histórias diferentes envolvendo, os “Ramos” e a “Paixão”. A procissão com os ramos tem sua origem na liturgia de Jerusalém (séc. IV); posteriormente, passou para a liturgia da Espanha e da Gália; bem mais tarde, nos séculos VII e VIII, foi assumida pela liturgia da Igreja de Roma.[1]

O sentido da festa gira em torno da entrada messiânica de Jesus na cidade de Jerusalém, para realizar seu Mistério Pascal. O uso dos ramos faz alusão à Festa das Tendas. A multidão formada, na sua maior parte, por crianças e estrangeiros marca o momento da ruptura de Jesus com a aristocracia e com os chefes dos judeus. Jesus vem como o Messias predito pelo profeta Zacarias: manso, montado num jumento, como Davi, indicando um projeto de reino da justiça, do amor e da paz.

Os ramos de palmeira significam a vitória de Cristo sobre a morte. Os ramos de oliveira significam sua unção espiritual. É o Cristo do qual nos vem toda a força da vida. A celebração do mistério dos ramos e da paixão leva-nos ao reconhecimento da divindade de Jesus; convida-nos a compartilhar de sua paixão e ser instrumentos para trabalhar pela redenção do mundo.

A celebração da Eucaristia começa com a oração da missa. Esta, por sua vez, tem um caráter de reflexão sobre o Mistério da Paixão do Senhor, mudando a dimensão festiva vivida na procissão. É no acolhimento de sua Palavra e de sua pessoa que nos tornaremos partícipes deste mistério. A oração da missa, ao lembrar o exemplo de humildade de Cristo demonstrada por meio do seu sofrimento, conduz o cristão e a comunidade a aprender de sua paixão para chegar às alegrias de sua ressurreição: Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo (Missal Romano, p. 230)

A liturgia da Palavra é um convite para contemplar o Cristo no mistério de sua Paixão. As leituras falam do sofrimento, da humilhação, da resistência (cf. Primeira leitura – Is 50,4-7), da escolha e da entrega que o Filho de Deus fez, na sua encarnação, de chegar ao extremo de sua igualdade com as pessoas, para fazer a ressurreição de todos; realçam a fidelidade de Cristo à sua missão para salvar os pobres e humildes (cf. Segunda leitura – Fl 2,6-11); manifestam a sua solidariedade com todos os povos.

As leituras do Evangelho da Paixão do Senhor apresentam Jesus realizando sua paixão na total entrega ao Pai, fazendo pleno uso de sua liberdade. Escutando e acolhendo a palavra, contemplamos Jesus abandonado, traído, negado. Ele é o homem que morre pelo povo (ANO A – Mt 26,14-27; ou 27,11-54). Os sofrimentos de Jesus levam a crer que Ele é o Messias, Filho de Deus (ANO B – Mc 14,1-15.47 ou 15,1-39). A caminhada de Jesus desde a Galiléia chega aos seus passos finais com a proclamação do letreiro posto na cruz: este é o rei dos judeus! Ou ainda, na expressão: lembra-te de mim quando estiveres no paraíso do teu reino, diz o ladrão. Ou nas palavras do próprio Jesus que disse: hoje mesmo estarás comigo no paraíso. Ou na manifestação de fé do centurião que dá glória a Deus dizendo: este homem era justo (ANO C – Lc 22,14-23.56; ou 23,1-49).

Hoje, somos convidados a acolher a chegada de Cristo para implantar o Reino de Deus em nosso meio. Ele nos convida a colher a sua paixão. Por isso, durante este tempo que nos separa e, ao mesmo tempo, nos aproxima da festa de sua Ressurreição, esforcemo-nos para estarmos atentos na escuta da palavra, seguros na sua cruz salvífica, procurando compreende os caminhos que nos levam a seguí-lo de perto para estarmos presentes no momento mais alto da ressurreição. Celebrar esta liturgia é aceitar o convite de atualizá-la todos os dias, nas nossas vidas de pais e mães de família, jovens, catequista, animadores de grupos, coordenadores de comunidades, ministros etc.


Estrutura da celebração

A celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor está estruturada em três partes: memória da entrada do Senhor em Jerusalém, liturgia da palavra com a leitura da paixão do Senhor e liturgia eucarística.


1.ª) Memória da entrada de Jesus em Jerusalém:

a) procissão com ramos feita uma vez em cada Igreja, na missa principal;

b) entrada solene, em lugar da procissão, sendo possível repeti-la em outras missas na mesma Igreja;

c) entrada simples, em todas as missas como nas missas de um Domingo comum, sem ramos, sem bênção, sem evangelho da bênção.

Lembramos que o mais importante não é a bênção, mas a procissão que se realiza com os ramos. Muitas pessoas vão à missa nesse dia por causa da bênção dos ramos esquecendo ou ignorando, quem sabe, o fato principal: a entrada solene de Jesus em Jerusalém, para realizar o seu mistério pascal. A bênção, como tal, é feita por causa da procissão que vai ser realizada pela comunidade. Não tem sentido fazer a procissão e depois a oração de bênção sobre os ramos. Vale lembrar que, aqueles que comemoram esse fato histórico-salvífico devem fazer um esforço para atualizá-lo na caminhada de todos os dias, através de gestos e ações concretas em favor dos irmãos sofrem e passam necessidades. O desafio, portanto, é conciliar a devoção daqueles que vão à missa por causa da “bênção do ramo” com a exigência de um aprofundamento maior da vida de fé.


2.ª) Liturgia da Palavra com a leitura da Paixão

a) Homilia

b) Profissão de fé

c) Oração dos fiéis


3.ª) Liturgia eucarística ou ação de graças como de costume; com Prefácio próprio

Pe. Nivaldo Feliciano Silva, cs



[1] Cf. Peregrinação de Etéria: Liturgia e Catequese em Jerusalém no Século IV. Petrópolis: Vozes, 1971. (Fontes da Catequese/6).


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