domingo, 30 de maio de 2010

Olhar de migrante


Num certo dia, voltando da faculdade, estava na barca quando notei a presença de dois jovens, roupas sobrepostas, timidez, inquietação, muitas malas, e o mais marcante: seus olhares! O espanto e a admiração do novo. Olhos crescentes a cada percepção. Certamente tratava-se de um olhar de migrante.

Eles gritavam com os olhos: '' onde eu estou? que mundo é esse?''
Eu como migrante sei como é isso; a sensação nem se dá pra explicar ao certo, o coração palpita.

E a cena me chamou tanto a atenção que tive um Déjà vu ... veio à tona em minha mente a minha experiência de migrante. É uma mistura de medo, curiosidade, ansiedade, saudade e esperança.
Lá em Janeiro de 2006, deixava para trás não só minha terra natal - Itabuna-Ba, mas também grande parte da família. E em lágrimas, eu, meus pais e irmãos partimos!

O mais difícil foi a barreira da diferença ... os hábitos, a cultura, o idioma são diferentes. A princípio o sentimento de desfoque é grande. Você está no lugar, mas não no seu contexto. A relação interpessoal é variante, muitos não ajudam, fazendo brincadeiras maldosas, implicam com o sotaque ... você vai se fechando pela não-aceitação, pelo pré-conceito ...

As noites eram as partes mais severas do dia, era só deitar a cabeça no travesseiro que vinha em flash-back todos os momentos até ali vividos. Eu chorava e chorava de saudade.

Fui dando tempo ao tempo.

Momentos antes de dormir, costumava ir olhar a Lua e repetia sempre a mesma frase em meus pensamentos:

" O lugar é novo, mas o céu é o mesmo e DEUS está comigo."

Era o que me dava forças para acordar no outro dia. Me agarrava muito nessa certeza. E passava a me entregar nas mãos de Deus, pois sabia que Ele escreve certo por linhas tortas, e reserva um ótimo destino para mim.
Perseverei.
Fiz amizades valiosas e comecei a me inserir.

Entrei na turma de Crisma da Comunidade São José (2007), dela resultou um grupo de jovens: JUSC -Comunidade Sagrado Coração de Jesus. Que iria mudar a minha vida. Inicialmente fui secretária do grupo e depois viria a ser coordenadora. Me tornava uma líder. Me envolvi muito e conheci inúmeras pessoas. Descobria assim meu destino e consegui adaptar-me ao novo mundo.

Continuo até hoje no JUSC, ajudo também na coordenação da Pastoral na Paróquia e ainda sou a representante dos jovens na PASCOM.
É delicioso atuar na Juventude, incentivar aos jovens à serem católicos conscientes.

Nessa vida passamos por desafios que a princípio nos parecem sofrimento, mas numa segunda visão vemos a oportunidade de fortalecimento pessoal. Basta ter fé e levar a perseverança no bolso.

À DEUS, o maior dos obrigadas
Aos caiçaras, eu vim para somar.

Emilly Brito

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