quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Vocação e chamado são sinônimos

Agosto é o mês da vocação, ou melhor, das vocações. O plural indica as diversas formas de responder ao apelo de Deus. Os diversos caminhos da existência humana sobre a terra, para buscar, a cada curva, a superação dos próprios limites.

Vocação e chamado são sinônimos. Sinônimos também a opção e a busca. Entre as distintas dimensões desses binômios, não é menor a do retorno à casa de Deus. O coração erra inquieto enq uanto não descansa aí, diz S. Agostinho. A morada divina é para o ser humano o que o mar é para o peixe.

De fato, todo pessoa vive e sofre uma espécie de diáspora. O pecado nos afasta dos “átrios do Senhor”, como insistem os salmos. O conceito moderno de liberdade abre portas largas para todo tipo de aventura. Portas que conduzem aos caminhos mais insuspeitados.

Impera na cultura moderna ou pós-moderna, um bombardeio diário de escolhas. Marketing, publicidade e propaganda se conjugam para lançar iscas de toda ordem. Estas brilham diante de nós com a força e o fascínio de sereias no oceano tormentoso da travessia. Imagens, luzes e sons apelam e seduzem até os mais cautelosos. Basta ter em mente as vitrines profusamente iluminadas dos grandes shopping-centers urbanos.

Semelhante liberdade, se e quando levada ao extremo, vira libertinagem. Em lugar de fazer o que constrói, cada um faz o que lhe agrada. No final dessa estrada permissiva e aberta ao extremo, aguarda em geral a desilusão, o fracasso, a tristeza e o tédio. Daí à violência, às drogas e ao sexo banal não há mais que um passo. Tornamo-nos facilmente escravos do produtivismo consumista. Falsamente felizes em gaiolas de ouro!

Neste contexto, entra em cena a vocação como retorno. Quando o ruído dos interesses, dos desejos e das paixões se torna mais forte do que a voz de Deus, bate à porta a saudade de sua presença suave e silenciosa. Somente esse silêncio profundo será capaz de produzir palavras novas e criativas.

Quando tud o na vida se torna demasiadamente claro e racional, vem a nostalgia do segredo e do mistério. Só a escuridão do mistério é capaz de produzir uma luz nova e de brilho mais intenso.

Quando a lógica da razão e da ciência ditam com arrogância as verdades e certezas, o ser humano anseia pela sabedoria que vem do coração e da alma. Saber que mata a sede e produz energia para seguir adiante.

Quando o ritmo de nossos passos imita ou ultrapassa a velocidade das máquinas, surge a necessidade de parar. Quem não é capaz de uma parada, não será capaz de produzir passos inovadores na história.

Daí o retorno. Retorno é conversão. Usando a metáfora do trânsito, é mudança de rumo, busca de novos horizontes. É refazer com sabedoria o caminho que reconduz à casa de Deus. Vocação-retorno-conversão.

Vários e distintos são as veredas do retorno. Em todas, repete-se o chamado que nos leva à luminosidade da casa divina. Há profissões, serviços e ministérios diferentes, mas todos esses caminhos podem apontar para a morada de Deus, nome de Pai e coração de Mãe. Essa presença e intimidade com Deus é talvez a maior sede que padece o mundo de hoje. Qual sua resposta ao chamado?

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

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