sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rio 2016

Rio-2016. Eu quero. Mas eu posso?

por Mauro Beting - Lancenet

Abro a geladeira e tem um belo pedaço de bolo de chocolate.

Não sei se devo comê-lo. Só sei que é possível se lambuzar e sair bem satisfeito. E não sei se ele irá me fazer mal no fim das contas. É a sensação como cidadão brasileiro a respeito dos Jogos de 2016. Quero que seja no Rio. Mas vai ser bom para nós?

Acredito no Brasil. Não necessariamente nos brasileiros. O Rio de Janeiro pode fazer uma boa Olimpíada para o mundo e um ótimo evento para os contribuintes brasileiros. É só torcer pela quebra dos recordes apenas nas competições, não nas contas. É esperar a superação dos atletas não contaminando a superação de metas estabelecidas pelos organizadores.



É possível fazer festa sem tanta farra. Para ganhar os anéis olímpicos, não precisamos dar os dedos. Hoje é o dia para o ano de 2016. Nossa maior chance. Não sei se o Brasil precisa sediar os jogos. Só sei que não precisamos mais da sede por outras campanhas e comitês pelos jogos de 2020. 2024. Dois mil e tantos comitês tão caros para o cidadão. Já fomos Brasília em 2000. Já demos “aquele abraço” em 2004, no Rio. Perdemos 2012 para Londres. Talvez ganhemos enfim o direito de fazer os jogos de 2016. Não vamos jogar fora a chance de fazer bem feito. De fazer dentro de nossas possibilidades. De fazer uma festa não para gringo ver. Mas para brasileiro poder pagar as contas devidas sem abrir um rombo no nosso futuro.


Antes de fazer uma Olimpíada brasileira de duas semanas seria preciso fazer um Brasil olímpico de duas décadas. Fazer na escola não apenas esportistas de carreira. Fazer o esporte como educação. Como saúde. Como inclusão. Esporte por excelência, não as excelências por exclusão. Empreender uma política de esporte, não o esporte como política. Enfim, todo o discurso que se faz desde antes da primeira candidatura fracassada e/ou falida. Todo o blábláblá que espero não precisar blablablazar depois de 2016.


A sede e a fome por ser sede consomem recursos. Agora canalizados, represados, saneados, bola e boladas pra frente, que atrás vem todo tipo de gente. Se os donos dos anéis souberem escalar direitinho os times e capitães, nada contra. Não nado contra a maré. Só espero que ela desague no mar como rio caudaloso, não como esgoto escandaloso.

Nosso complexo de Mutley - o simpático cãozinho do desenho animado que pedia “medalha, medalha, medalha!” por qualquer coisa - se dividiu na ânsia por trazer para o país o maior evento de todos os esportes, colado ao maior evento do esporte, em 2014. Se os erros do Pan de 07 forem corrigidos, se as autoridades derem a volta olímpica no que foi feito de errado (ou que deixaram errar) no evento de 007 – com permissão para matar, como na ficção de James Bond -, o Brasil poderá se orgulhar não apenas do país que pode ser. Mas dos brasileiros que fizeram o possível e - literalmente - o impossível para trazer mundos e fundos para o Brasil.

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